sexta-feira, 22 de junho de 2012

FODACI

Sabe o que eu quero nessa vida ? Fazer composições fodonas, planos indiscutivelmente bons, aproveitar os 4 pontos ricos de tudo, escrever um roteiro instigante, ganhar uma grana, talvez eu até queira fazer um sucessozinho, ser reconhecida e bem-paga. Mas, o que eu REALMENTE quero da vida...amor. Amor mesmo, sabe ? Desses que te faz fechar os olhos e sentir paz, depois de ter chutado a tomada do Mac, sem ter renderizado o projeto que estava há 6 horas em andamento. Aquele que te faz xingar o mundo quando recebe um sms e vê que não é daquele ser que cê ama e sim, da operadora mandando você colocar créditos. Um desses que sem ele, faz você se sentir cheio de vazio mesmo no meio de uma festa maneiríssima. Que faz você ficar acordado olhando o amor dormir e ver sentido em letra de pagode. Que te faz querer " ter dois filhos, ver um filme, ir ao parque, discutir Caetano, planejar bobagens e morrer de rir." Enfim, eu quero poder agradecer por ter alguém com quem estar sempre comigo, na rua, na chuva, na fazenda, me sentir de alguém. Eu quero me apaixonar todo dia, de novo e de novo. Meu irmão, eu quero amar e só isso. Tudo isso.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O dia que Júpiter encontrou Saturno

Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodka, gelo e uma casquinha de limão. Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela. A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha. Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar da própria loucura, discretamente infeliz. Molhou os lábios na vodka tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada. Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira. Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso. Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos.


Não que estivesse triste, só não sentia mais nada.
Levemente, para não chamar atenção de ninguém, girou o busto sobre a cintura, apoiando o cotovelo direito sobre o peitoril da janela. Debruçou o rosto na palma da mão, os cabelos lisos caíram sobre o rosto. para afastá-los, ela levantou a cabeça, e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco parada assim, meio remota, o moço das calças brancas veio se aproximando sem que ela percebesse.
Parado ao lado dela, vistos de dentro, os dois pintados em aquarela - mas vistos de fora, das janelas dos carros procurando bares na avenida, sombras chinesas recortadas contra a luz vermelha.
E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou every dau, every way is getting better and better. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos dos moço. As memórias que cada um guardava, e eram tantas, transpareceram tão nitidamente nos olhos que ela imediatamente entendeu quando ele a tocou no ombro.


-Você gosta de estrelas?

-Gosto. Você também?
-Também. Você está olhando a lua?
-Quase cheia. Em Virgem.
-Amanhã faz conjunção com Júpiter.
-Com Saturno também.
-Isso é bom?
-Eu não sei. Deve ser.
-É sim. Bom encontrar você.
-Também acho.


(Silêncio)

-Você gosta de Júpiter?

-Gosto. Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra".
-Que é isso?
-Um poema de um menino que vai morrer.
-Como é que você sabe?
-Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro.

(Silêncio)


-Você tem um cigarro?

-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.

(Silêncio)


-Como é que você sabe?

-O quê?
-Que o menino vai se matar.
-Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda.
-Eu não sei nada.
-Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo.
-Eu só sinto, Mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
-Ninguém compreende.
-Às vezes sim. Eu te ensino.
-Difícil, morri em dezembro. Com cinco tiros nas costas. Você também.
-Também, depois saí do corpo. Você já saiu do corpo?

(Silêncio)


-Você tomou alguma coisa?

-O quê?
-Cocaína, morfina, codeína, mescalina, heroína, estenamina, psilocibina, metedrina.
-Não tomei nada. Não tomo mais nada.
-Nem eu. Já tomei tudo.
-Tudo?
-Cogumelos têm parte com o diabo.
-O ópio aperfeiçoa o real.
-Agora quero ficar limpa. De corpo, de alma. Não quero sair do corpo.

(Silêncio)


-Acho que estou voltando. Usava saias coloridas, flores nos cabelos.

-Minha trança chegava até a cintura. As pulseiras cobriam os braços.
-Alguma coisa se perdeu.
-Onde fomos? Onde ficamos?
-Alguma coisa se encontrou.
-E aqueles guizos?
-E aquelas fitas?
-O sol já foi embora.
-A estrada escureceu.
-Mas navegamos.
-Sim. Onde está o Norte?
-Localiza o Cruzeiro do Sul. Depois caminha na direção oposta.

(Silêncio)


-Você é de Virgem?

-Sou. E você, de Capricórnio?
-Sou. Eu sabia.
-Eu sabia também.
-Combinamos: terra.
-Sim. Combinamos.

(Silêncio)


-Amanhã vou embora para Paris.

-Amanhã vou embora para Natal.
-Eu te mando um cartão de lá.
-Eu te mando um cartão de lá.
-No meu cartão vai ter uma pedra suspensa sobre o mar.
-No meu não vai ter pedra, só mar. E uma palmeira debruçada.

(Silêncio)


-Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.

-Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
-Vamos nos ver?
-No teu chá. No meu chá.

(Silêncio)


-Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.

-Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.-O tempo existe, sim, e devora.
-Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
-Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

(Silêncio)


-Mas não seria natural.

-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.

(Silêncio)


-Tudo isso é muito abstrato. Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos ?

-Você quer dormir comigo?
-Não.
-Porque não é preciso?
-Porque não é preciso.

(Silêncio)


-Me beija.

-Te beijo.


Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas, querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz.
Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos junto à janela. Baixou outra vez os olhos, embora magro também. E suspirou soltando os ombros, pés inseguros comprimindo o piso instável do elevador. Só porque era sábado, porque estava indo embora, porque as malas restavam sem fazer e o telefone tocava sem parar. Sorriu olhando em volta.
Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo.
Levemente, para não chamar a atenção de ninguém, apertou os dedos da mão direita na porta aberta do elevador e atravessou o saguão de lado, saindo para a rua. Apoiou-se no poste da esquina, o vento esvoaçando os cabelos, e para evitá-lo ele então levantou a cabeça e viu o céu. Um céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Visto assim parecia não um moço vivendo, mas pintado num óleo de Gregório Gruber, tão nítido estava ressaltado contra o fundo da avenida, e assim estava, mas sem compreender, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco, a moça debruçou-sena janela lá em cima e gritou alguma coisa que ele não chegou a ouvir. Parado longe dela, a moça visível apenas da cintura para cima parecia um fantoche de luva, manipulado por alguém escondido, o moço no poste agitando a cabeça, uma marionete de fios, manipulada por alguém escondido.
De repente um carro freou atrás dele, o rádio gritando "se Deus quiser, um dia acabo voando". Na cabeça dele soaram cinco tiros. De onde estava, não conseguiria ver os olhos da moça. De onde estava, a moça não conseguiria ver os olhos dele. Mas as memórias de cada um eram tantas que ela imediatamente entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás.


Caio Fernando Abreu 

sábado, 17 de março de 2012

Que

Que você saiba o que quer
e queira o que precisa.
Que os seus braços sejam
fios condutores.
Que em vez de catar migalhas
você prefira voar.
Que toda espera seja
exclamação do desejo
(e que todo desejo seja
exigência em oração).
Que você repouse sob a chuva
para refrescar sua memória.
Que você seja feliz, bonito
e não tenha medo de se molhar.

terça-feira, 13 de março de 2012

Dia de brinquedo

Vejo estas crianças correndo na casa onde cresci. Vejo pela janela branca da sala, a árvore que retorcida que se enfeita de flores vermelhas no verão. Vejo o sol do meio-dia fazendo brilhar as frestas do, sempre verde, portão .
Sinto as folhas amareladas da romã roçando meus pés enquanto abro o portão lateral, que esconde tomates e abóboras, se enroscando pelos matos, assim como nos contos da Gata Borralheira .
Subo as escadas de pedra e encontro a visão do que era o Grande Mundo para mim : a paisagem de morros verdes penteando as nuvens e refugiando o sol, o mato alto com um intraduzível cheiro fresco, a estrada de terra que me parecia infinita .
Entro em casa e sinto o chão gelado da cozinha, onde sempre há cheiro de café . Ouço as histórias dos crimes que passam na televisão, mas que chegavam lúdicas aos meus ouvidos pela forma como saíam da boca da minha avó . Histórias estas que sempre tinham ao fundo, o som de uma máquina de costura que paria os meus vestidos e os das bonecas também .
Sento na varanda como sempre fiz, quando ficava esperando para ouvir o som das botas caramelo da minha mãe, o cadeado sendo aberto sempre com pressa pela minha irmã, as músicas da minha madrinha, a forma certa e ritimada do meu tio de limpar os pés, a voz rouca da tia Alice, a forma boba e tímida do primo de brincar com o cachorro e a risada estonteando do padrinho, que insisto em esperar, mesmo sabendo que nunca mais vou ouvi-la .
Os meus sons, os meus cheiros, os meus sabores, as minhas lembranças...que construirão sonhos de outras crianças .

Quando ela ligar

Pensando em fazer um roteiro sobre isso que escrevi há algum tempo.
 Acordo, espreguiço-me livremente na cama, sem os limites impostos pelo seu sono leve, e sem me preocupar com o pecado do hálito matinal impuro .
Ando descalço pela casa, respirando o silêncio, dando bom-dia aos livros, acenando calorosamente para os CDs. Vou até o banheiro e deixo a porta aberta, sem a obrigação de vigiar a tampa do vaso . Aperto a pasta-de-dentes pela cintura, jogo as roupas todas pelo chão, tomo banho fazendo festinha, cantando alto. Me enxugo e vou até o quarto, arremesso a toalha em cima da cama ( ainda desarrumada ), pego a camisa listrada mais amarrotada que vier e tenho o cuidado de combiná-la com a, velha e boa, bermuda xadrez desbotada . 
  Ligo o rádio na estação de MPB, no volume que mais me agradar, já que não vou mais ouvir que isso é música para caretas .
  Vou até a cozinha, sem precisar dar de cara com o cheiro do seu café forte. Como sem pressa, sujo a toalha de mesa toda com migalhas, moldo bolinhas perfeitas com o miolo do pão . 
  Quase me esqueço do perfume, que agora uso até que me exploda a cabeça, sem ter que prestar atenção em suas alergias. Estou deixando a minha barba crescer, porque sua pele não corre mais o risco de ser arranhada por ela .
  Voltei com o futebol, fiz amizade com a vizinha do 304, troquei as cordas do violão e ganhei um aumento .
No mais, está tudo na mesma . Obrigado por se preocupar .
Ele decide que este é o discurso ideal para quando ela ligar. Ele põe a foto dela de volta na gaveta, com o rosto virado para baixo. Sente-se mal e percebe que não tem a quem pedir um copo de água. Definitivamente, aquelas garrafas de vinho não eram boa ideia...Se dá conta que bebeu todas elas, sozinho. Se esqueceu de trancar a porta e agora não vai mais levantar. Puxa os lençóis e vira para a janela, com as cortinas abertas. Antes de pensar como será desagradável acordar amanhã com a visita indesejada do Sol, ele adormece .
Talvez nem consiga sonhar .] "

sábado, 21 de janeiro de 2012

Presente

" Bem, cachos que brilham como os sonhos do poeta. Teu Orixá é rei, tu beleza é real. Suas vestes encantam, e a Vogue quer te fotografar, vai ser capa. Capa amarela e vestida da vovó, ela vem de longe, e a floresta se prostra diante de sua beleza. As flores a invejam. Sorria, e use batom, coma batom, vermelho. Bailarina que não dança, vamos compor e estribilhar. Vista Azul-turquesa, se enfeite com Amarelo-ouro e vá à Bahia, vamos tocar tambores que exalam amor e celebram a paz. Doces, travessuras e encantos estão em nossas mãos. O ofá faz a nega do bozó sambar, e ela samba. E o samba é bom, "sambinha bom", e que ele te traga de volta. De volta as meus braços."
de Jackson Boa Ventura, sobre mim.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

" Minha alma é Clara, só quem é clarividente pode ver.."

"Seja o que quiser
Seja o que for
Não deixe de ser
O que ja é :
Escritora."

Comentário de Lorenzo Aldé em algum trabalho doido meu.